quinta-feira, 21 de março de 2013

O Primeiro.




Caminhava lento por ruas da cidade. Um cigarro na boca. Perto das 5 horas. Já não tinha um sol tão forte acima de minha cabeça. Caminhava despreocupado, atento por ruas sujas, os pés quase pisando em poças d´água, lama, sujeira nos cantos das calçadas, frutas podres jogadas. Cheiro de mijo. Algumas ruas por onde ando têm cheiro de mijo. Em algumas o cheiro é mais forte. Nesta onde caminho é mais fraco. Mesmo assim ainda dá pra sentir.

Mais um quarteirão, e então passo em frente a uma igreja que nunca entrei. Curioso pensar nos vários lugares nesta cidade formiga formigueiro onde nunca pus os pés. Faço o sinal da cruz e atravesso a rua. A pista molhada e hoje sequer choveu. Cidade suja, calçadas sujas. Dobro a esquina, avisto a casa, agora mais próxima, dou uma última tragada no cigarro, a fumaça sobe transformando-se em nuvem, nevoeiro sobre os olhos. Jogo a ponta do cigarro no chão. Cidade suja.

Atravesso a rua, olho para os lados, não vem carro. Estranho as ruas estarem tão vazias em plena sexta-feira, agora 5 da tarde. Os pés tocam a calçada, o coração dentro do peito dá um soluço. Aproximo-me do portão de ferro quadriculado com pintura branca descascando. Lá dentro uma mulher me vê e vem abrir o portão. Passos arrastando chinela. Um sorriso. Vai abrindo para que eu entre.

-A Kelly está? Pergunto.
-Tá sim, lá dentro. Entra e espera, já vou chamar. Responde com voz natural, despreocupada.

Ela se retira e segue em um corredor. A sala não muito grande. Uma TV no canto, dois sofás formando um L, uma mulher sentada no sofá de dois lugares com as pernas atrepadas em um banquinho, bebe cerveja e assisti TV, me olha e depois volta para a TV. Não demora muito e dos fundos da casa a outra volta arrastando as chinelas.

-Ela já tá vindo. Pode sentar aí, quer uma cerveja? Fala sem olhar para mim.

Respondo que não com a cabeça sem saber se ela viu ou não. Já tinha bebido e hoje meu dinheiro está curto. Sento no sofá de 3 lugares. A mulher senta do lado da outra que bebe cerveja e vê TV. Senta do lado dela e puxa uma serrinha do canto do sofá, e então começa a passar nas unhas.

Não foi difícil encontrar o lugar, já conhecia a rua, conhecia a casa de vista. Nova moradia de Kelly.

Dos fundos da casa ela surge com seu andar mole, um tipo de desfile. Me olha de longe e sorri. Eu levanto quando ela se aproxima. Sorriso em seu rosto.

-Veio cedo, meu amor. Ela fala.

Dou um sorriso para ela.

É que queria ser o primeiro.

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