Caminhava lento
por ruas da cidade. Um cigarro na boca. Perto das 5 horas. Já não tinha um sol
tão forte acima de minha cabeça. Caminhava despreocupado, atento por ruas
sujas, os pés quase pisando em poças d´água, lama, sujeira nos cantos das
calçadas, frutas podres jogadas. Cheiro de mijo. Algumas ruas por onde ando têm
cheiro de mijo. Em algumas o cheiro é mais forte. Nesta onde caminho é mais
fraco. Mesmo assim ainda dá pra sentir.
Mais um
quarteirão, e então passo em frente a uma igreja que nunca entrei. Curioso
pensar nos vários lugares nesta cidade formiga formigueiro onde nunca pus os
pés. Faço o sinal da cruz e atravesso a rua. A pista molhada e hoje sequer
choveu. Cidade suja, calçadas sujas. Dobro a esquina, avisto a casa, agora mais
próxima, dou uma última tragada no cigarro, a fumaça sobe transformando-se em
nuvem, nevoeiro sobre os olhos. Jogo a ponta do cigarro no chão. Cidade suja.
Atravesso a rua,
olho para os lados, não vem carro. Estranho as ruas estarem tão vazias em plena
sexta-feira, agora 5 da tarde. Os pés tocam a calçada, o coração dentro do
peito dá um soluço. Aproximo-me do portão de ferro quadriculado com pintura
branca descascando. Lá dentro uma mulher me vê e vem abrir o portão. Passos
arrastando chinela. Um sorriso. Vai abrindo para que eu entre.
-A Kelly está?
Pergunto.
-Tá sim, lá
dentro. Entra e espera, já vou chamar. Responde com voz natural, despreocupada.
Ela se retira e
segue em um corredor. A sala não muito grande. Uma TV no canto, dois sofás
formando um L, uma mulher sentada no sofá de dois lugares com as pernas
atrepadas em um banquinho, bebe cerveja e assisti TV, me olha e depois volta
para a TV. Não demora muito e dos fundos da casa a outra volta arrastando as
chinelas.
-Ela já tá vindo. Pode sentar
aí, quer uma cerveja? Fala sem olhar para mim.
Respondo que não
com a cabeça sem saber se ela viu ou não. Já tinha bebido e hoje meu dinheiro
está curto. Sento no sofá de 3 lugares. A mulher senta do lado da outra que
bebe cerveja e vê TV. Senta do lado dela e puxa uma serrinha do canto do sofá,
e então começa a passar nas unhas.
Não foi difícil encontrar o
lugar, já conhecia a rua, conhecia a casa de vista. Nova moradia de Kelly.
Dos fundos da
casa ela surge com seu andar mole, um tipo de desfile. Me olha de longe e
sorri. Eu levanto quando ela se aproxima. Sorriso em seu rosto.
-Veio cedo, meu
amor. Ela fala.
Dou um sorriso
para ela.
É que queria ser
o primeiro.
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