Por Jorge Elias.
Matilha
Nomeados
os lobos,
desembanhei os caninos
– incógnitos
e ensaiei a dança
solitária
do uivo
na imensidão austral.
Entrelinhas da Perdição
Farfalha o sargaço
no remanso
desse mar extinto,
despido de surpresas.
Perde-se o sal
nos lábios
ingênuos
que recolhem o sabor
da morte
triturada
― pacientemente ―
como uma esperança.
Paranoia
O minuto dividido
em sessenta pressentimentos.
Meu Corpo
Para Berredo de Menezes
Meu corpo
é essa areia
rarefeita
que parte
do deserto
e impregna
as pétalas.
Meu corpo
é um grifo nas dunas
que se desfazem
em Mundo.
Meu corpo
é a velhice de um tempo
desabençoado
pelo silêncio.
Meu corpo
é a textura vulgar
de um remendo
da insensatez.
Meu corpo
é pressentimento
de moeda
que dissolve o pecado.
Meu corpo
é bojo de névoa
ruminada no pasto.
Meu corpo
é a universalidade
de um nada carente
de sentido.
Meu corpo
exilado na descrença
jaz
no giral de ofertas
de um supermercado.
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