quinta-feira, 22 de novembro de 2012

DO ATO DE FALHAR.


Por Carlos Alberto Nascimento



O Medo

“Quantos sonhos em sonhos acordo aterrado?”
Lobão

“Em que festa eu serei a despedida?
Em que caminho eu serei o meu atalho?”
José Telles


Onde permaneço em um lugar que mal conheço?
Em que coração habito sem saber que ali fui colocado?
Em que olho estou para ser observado?
Em que poema existo sem saber que ali fui escrito?
Em que quadro vivo sem saber que ali fui pintado?
De que lado estou no qual a escuridão me habita dia e noite?
Que sofrimento sou que coroe algum peito?
Que paixão sou sem sabe que acabei despertando?
E que vida é essa que por mim ainda não foi encontrada?




Um Vampiro Nas tardes Ociosas


Separado por um tempo

Que escore por ponteiros de um relógio

[morto

Atravessando uma tarde de sol negro

Que torna meus olhos escuros,

Caminho pelo dia

Sem grandes preocupações.



Respirando ar cinza

Que deforma minhas narinas e pulmões

Observando as ruínas da cidade,

Percebo

Que os prédios caminham devagar ao meu lado

Junto com o asfalto
Que vagarosamente dissolve-se

E flutua para o céu

Onde futuramente derramará lágrimas que deformará

[minha fase.


Observando a adolescência da tarde,

Percebo que sou um bruto

Em relação às horas

E aos ponteiros do relógio,

Que vagarosamente se mantém distraído

Observando meu cansaço

E meus medos

Em relação à vida.





O Dia Entre Dois Fios do Telefone

Pessoas andam por ruas com os olhos fechados

Como uma marcha sega de sonambulismo,

Carros transformados em armas vagam em pistas

E o sol queima a pele de quem caminha.


A música toca alto no rádio do vizinho

Falando sobre amor e outras tristezas

Sem preocupações sobre o futuro da nação

Ou homens que sentem fome.


Folhas caídas de árvores queimam em pleno meio dia

Misturando-se e sendo transformadas em lixo

O gari que limpa as ruas fala e reclama;

“Que sujeira essa cidade!”

E mentalmente agradece a Deus o emprego que tem.

Generais sentados em cadeiras acolchoadas

Em salões redondos e gigantes com ar refrigerado

Conversam sobre como os tempos estão tediosos,

Então se põem a discutir refletir e planejar

A destruição de um país ou dois

Para matar tempo, tédio, cultura e pessoas.


O dia transcorre normal

Entre os dois fios do telefone.







Do Ato de Falhar


A tarde deita sobre mim

E me sinto incomodado

Com o abraço que o sol me dá,

Folhas verdes

De árvores negras acenam,

Eu nunca respondo por que sou tímido.



Jovens caminham olhando para o horizonte

Moças passam insinuando-se

E eu grito me orgulhando

Por falhar em um poema.


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